CAFÉ QUE ME SURPREENDE

Foi uma experiência rica, perfumada e gourmet, quase uma poção de feitiço, que me conquistou. Degustei ontem um café especial, que ganhei de presente. No rótulo estava “café especial, 100% arábica” safra 2020/2021. Comecei com o delicioso aroma que exalou logo ao abrir o pacote da variedade topázio amarelo. Aroma de? Mel? Coloquei meio copo de grãos no liquidificador, para moê-los. O aroma potencializou. Coloquei dois copos de água para ferver. Escaldei o filtro de papel e voltei com a água para a vasilha de fervura. Coloquei o pó moído no filtro e voltei com a água em fervura sobre o pó. Os aromas ampliaram. Para não desperdiçar nada, joguei um pouco da água fervida no liquidificador e verti no coador. O café descia num recipiente de vidro transparente para que eu pudesse apreciar a cor, que ficou num marrom assemelhado à cor do grão. Servi-me em seguida, numa caneca de porcelana. Inalei a fumaça de olhos fechados e degustei o primeiro gole. O aroma transforma-se em sabor, frutado, suave, agradabilíssimo.

A música natural

Há uma música espalhada dentro da cabeça. Canção que vem de dentro. Devem ser fragmentos de memória que juntam melodias e poesias incrivelmente assanhadas para nos acompanhar, como uma trilha sonora de filmes. Ela tem vida própria, não segue as emoções do momento, ou o ambiente em que você se encontra. Vem do nada, as vezes você já acorda com ela, conduzindo o seu despertar e depois no banho, no escovar os dentes, no pentear o cabelo. Talvez seja um recurso natural para criar um outro clima, para recompor o estado emocional ou, numa hipótese mais caótica, apenas um recurso do cérebro de funcionamento constante. Talvez ainda seja seu cérebro instintivo oferecendo à sua razão outra forma de passar o dia, se você trouxer a canção para a voz e sair dançando entre o banheiro e a cozinha. E se isso acontecer, com a sorte de dançar enquanto lava as louças deixadas na pia na noite anterior, sem quebrá-las, sua esposa vai acordar e poderá perguntar se viu passarinho verde. No compasso da canção você segura-lhe as mãos e vira o corpo entregando a ela um abração cruzado quase num balé. O decorrer do trabalho correndo risco de responder todas as demandas do dia com frases de alguma canção. Se haverá efeito prático não saberemos até o cancelamento de algum contrato, ou olhares de espanto e incredulidade. Se o telefone toca há um “fui atender, na madrugada quero estar com você”. Chega de saudade, a realidade. Sim, a realidade tenta dar uma lógica pra isso, entretanto, no balanço das horas tudo pode mudar. Reunião chegando e eu acho que ele não vem, ou será que virá. Acaba o expediente. No caminho de volta é mais tranquilo, se voltar após o rush e sintonizar uma emissora de rádio musical. Neste momento a frequência liga na música real do rádio e seu cérebro entra noutra linha associativa, agora conforme a canção que vem de fora.

Turma do Funil

Sei da reputação da Turma do Funil. Eu devia ter uns 10 anos de idade e eles eram cantados nas marchinhas de carnaval nos bailes de matinês dos clubes da minha cidade.

“Chegou a turma da alegria”. Era um verso empolgante. E na minha cabeça aquela gente toda sorridente, efusiva, brindando seus canecos de chopp e, claro, lá se ia “mais um barril”.
Eu não bebia chopp. Com 10 anos me deliciava com água, guaraná-maçã Cabeça de Bugre, ki-suco e, claro, café-com-leite quentinhos, que minha vó sabia a medida exata do adoçar.

E tinha o verso “ninguém dorme no ponto.” Uma afirmação poderosa. Os caras eram atentos, não perdiam aulas. Ouviam compenetrados aos ditados e anotavam tudo, sem cochilar. “

Havia o desdém com a responsabilidade,  o “Sem compromisso” o que, a meu ver, era só da boca pra fora, pois onde houvesse garrafa, ou  barril, eles estavam presentes.

E o dinheiro era deles mesmo, podiam torrar a vontade. Sobre isso não há o que discutir. estavam com a grana e, certamente comprar barris saía mais em conta, pois, se não me falha a memória, naqueles tempos tínhamos que pagar pelo casco da cerveja ou devolver depois. Com a guaraná-macã Bugre era assim.

Tínhamos que levar as garrafas vazias quando fôssemos comprar.
O Funil, não sei a que se referia. Meu avô usava funil para colocar óleo de soja do tambor nas garrafas dos fregueses. No posto de gasolina usava-se funil para colocar água no radiador, ou mesmo na troca de óleo. Então, Funil seria um bairro, uma rua? Não entrava na cabeça que aqueles caras bebiam chopp com caneco e funil.

Ainda me questiono se era fato que eles bebiam e os outros é que ficavam tontos.

Pra quem é de tempos pós-carnaval de marchinhas, segue abaixo a letra completa que guardo de memória:

“Chegou a turma da alegria
Chegou a turma do funil
De caneco em caneco, olha aí
Lá se foi mais um barril.
Eu bebo sem compromisso
É o meu dinheiro ninguém tem nada com isso
Enquanto houver garrafa
Enquanto houver barril
Presente está a turma do funil.”

A música dos turistas

Me vejo sempre acompanhado de uma trilha sonora quando viajo. Desconheço a razão. Tenho minhas hipóteses, porém resisto a buscar resposta. A alegria de ter uma música na cabeça me ajuda a apreciar a paisagem.

Estava em Salvador (BA) e da janela do hotel “a baixa do sapateiro” percorria meu cérebro com uma insistência incrível e, creia, passeio inteiros ela tocava na imaginação seguindo por onde eu passava.

Conforme a relação profunda que você desenvolve com a cidade pode ocorrer mais músicas. São Paulo, por exemplo, se estou na região central minha cabeça toca invariavelmente a “Ladeira da Memória” e olha as pessoas, o ceu fica cinza, de repente troveja. E, na região da paulista a voz da Vânia Bastos ocupa com aqueles versos de “um milhão de estrelas prontas pra invadir os Jardins”.

Imagina como fica isso no Rio de Janeiro. Permita-me a tentação do lugar comum e dar o tom? “Minha alma canta.” Retome a relação profunda e caminhe pela Nascimento e Silva sem vista pro Redentor. Claro, o “Rio de Janeiro continua lindo”, apesar. E sua generosidade de vistas maravilhosas são perpétuas. E nem precisamos falar do “doce balanço a caminho do mar.”

A propaganda influencia muito, claro. Num passeio da Itália para a Espanha, pela costa mediterrânea, passamos por Mônaco. Como turistas, não poderíamos deixar de atravessar o túnel, do circuito da Fórmula 1, com o aumento dos roncos dos motor do nosso carro (reduzindo a marcha). E não é difícil cair na tentação de buscar o jingle da TV e deixá-lo escapar na voz o “Tan tan tan”. Todos no carro acompanharam na voz e emocionados como se do nosso lado houvesse Fitipaldi, Piquet e Senna sorrindo para nós com o punho erguido.

Na mesma viagem chegamos a Barcelona e, risível, “conheci uma espanhola natural da Catalunha”. Barcelona era bem maior que minha canção mental que nem touro vimos, nem os pegávamos a unha.

Nota

Funcionática

Os sonhadores querem que suas imaginações prevaleçam. Os controladores querem estabelecer as regras.  Os malucos querem ser malucos. Os infelizes querem que os outros sejam iguais a ele. Os gordos querem emagrecer. Os carecas querem ter cabelo. Os crentes querem eliminar os incréus e os donos da verdade simplesmente não conseguem viver sem mentir. E, pra simplificar, não necessariamente as pessoas são só uma ou qualquer uma dessas coisas.

FUNCIONATICA

Funcionática

Luminárias

 

Luminária em San Francisco

Luminária em San Francisco

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Luminária centro de Los Angeles

Luminária em São Paulo, praça Júlio Mesquita.

Luminária em São Paulo, praça Júlio Mesquita.

Luminária em Siena

Luminária em Siena

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Buenos Aires, praça San Martin.

Luminária em Petrópolis

Luminária em Petrópolis

Sempre reparei nas luminárias. Elas me atraem e a única razão que percebo é pelo fato de serem uma solução simples e elegante para iluminar os caminhos.

Luminária em Porto

Luminária em Porto

Luminárias em Ouro Preto

Luminárias em Ouro Preto

 

Lâmpada

Lâmpada

Luminária em Teresópolis

Luminária em Teresópolis

Xampu

“Você não sai da minha cabeça”

xampu

 

Imagine um produto com as seguintes características: tira da sua cabeça as coisas que o prendem, atrasam, pesam, infelicitam. Coloca na sua cabeça aquilo que você deseja. Mesmo que não exista uma clara certeza do tal desejo. Mesmo de forma genérica represente todas as suas convicções o sucesso, felicidade, saúde e dinheiro.

Daí voce se dirige à gôndola dos xampus e escolhe exatamente aquele que lhe promete: limpe sua cabeça e dê a si mesmo “felicidade, saúde e prosperidade”. Sem contra indicações. Basta seguir o modo de aplicação, espalhar na mão e massagear o couro cabeludo. Enxaguar após três minutos. Para os que não tem cabelo indica- se a loção com protetor solar.

Esta fábula fabulosa está às mãos de qualquer mortal que se deposite na deusa Fortuna suas energias.

E assim compreenda que a somos feitos da mesma carne e sentimos dores quando dói, por impacto fisico ou conflito de valores.

Mas antes de lavar a cabeça permita-se empoeirar-se ou sujar-se porque na realidade a gente lava a cabeça todos os dias com este xampu imaginário, por necessidade ou crença. Na maioria das vezes por hábito.

 

Tirar leite de pedra

Meu sentimento é de que os obstáculos existem para nos tornar mais fortes.

Meu sentimento é de que os obstáculos existem para nos tornar mais fortes.

“Tirar leite de pedra” é uma expressão antiga, mas me ocorre algumas vezes, ou me socorre. Admiro profundamente as pessoas que tiram seu leite de pedra todos os dias. Elas, de fato, facilitam o caminho de milhões de outras pessoas. As que tiram leite de pedra podem até não ter consciência disso, mas transformam o planeta num lugar melhor.